Em quase dois anos de experiências inesquecíveis na África do Sul, presenciei ontem um dos momentos mais emocionantes de minha passagem por este país que aprendi a amar como meu. Foi na final do Super 14, campeonato que reúne os melhores times de rúgbi do mundo.
Por causa da Copa do mundo, o estádio Loftus Versfeld, em Pretória, onde o Blue Bulls manda seus jogos, estava fechado e a final contra o Stormers, time da Cidade do Cabo, foi transferida para o estádio Orlando, que fica no coração de Soweto.
Por causa da Copa do mundo, o estádio Loftus Versfeld, em Pretória, onde o Blue Bulls manda seus jogos, estava fechado e a final contra o Stormers, time da Cidade do Cabo, foi transferida para o estádio Orlando, que fica no coração de Soweto.
(Brancos e negros juntos na torcida pelo Bulls)
Quem conhece um pouquinho da história sul-africana, sabe que Soweto foi o berço da resistência negra contra o Apartheid e até hoje praticamente todos os seus moradores são negros. Mesmo após o fim do regime de segregação racial, a maioria dos brancos sul-africanos não ousou colocar os pés por lá.
Pois ontem, cerca de 40 mil brancos invadiram o distrito mais famoso do país, muitos pela primeira vez. Como se não bastasse o feito histórico, os torcedores trocaram suas Mercedez e BMWs por ônibus e vans (aqui chamadas de taxi) para chegar ao estádio. Ver aquela multidão branca apinhada em ônibus, com um sorriso de uma orelha a outra, experimentando sem preconceito uma realidade nova, foi emocionante.
Nesses meses que estou aqui, me acostumei com o fato de que brancos e negros vivem em universos bem distintos. Não apenas têm a cor da pele diferente, mas falam línguas diferentes, escutam músicas diferentes, comem comidas diferentes, e por ai vai.
(Garoto branco pega "taxi" sul-africano para ir ao jogo)
Pois ontem esses dois mundos se encontraram numa linda final de rúgbi. O esporte dos brancos escolheu a capital dos negros para realizar sua festa. Como bem observou o amigo Thiago Dias, desde o massacre de 1976, em que a polícia do Apartheid atirou deliberadamente em estudantes negros, Soweto não recebia tantos brancos de uma só vez.
Dentro do estádio, a hora do hino sul-africano foi a mais emocionante. Quarenta milhões de brancos cantando com grande desenvoltura e orgulho as estrofes em zulu, xhosa e sotho do hino nacional. Para quem conhece bem tudo que este país sofreu para que negros e brancos pudessem c0nviver em harmonia, aqueles minutos foram um presente do país para esta jornalista apaixonada pela diversidade sul-africana. A resposta do povo para tudo que Mandela fez no passado.
Assim como na final do mundial de Rúgbi de 1995 retratada no filme “Invictus”, o esporte uniu brancos e negros num jogo histórico. Esperemos ver mais cenas como esta durante a Copa do Mundo daqui a 12 dias.
(Marta)