domingo, 30 de maio de 2010

Invasão branca em Soweto


Em quase dois anos de experiências inesquecíveis na África do Sul, presenciei ontem um dos momentos mais emocionantes de minha passagem por este país que aprendi a amar como meu. Foi na final do Super 14, campeonato que reúne os melhores times de rúgbi do mundo.

Por causa da Copa do mundo, o estádio Loftus Versfeld, em Pretória, onde o Blue Bulls manda seus jogos, estava fechado e a final contra o Stormers, time da Cidade do Cabo, foi transferida para o estádio Orlando, que fica no coração de Soweto.

(Brancos e negros juntos na torcida pelo Bulls)

Quem conhece um pouquinho da história sul-africana, sabe que Soweto foi o berço da resistência negra contra o Apartheid e até hoje praticamente todos os seus moradores são negros. Mesmo após o fim do regime de segregação racial, a maioria dos brancos sul-africanos não ousou colocar os pés por lá.

Pois ontem, cerca de 40 mil brancos invadiram o distrito mais famoso do país, muitos pela primeira vez. Como se não bastasse o feito histórico, os torcedores trocaram suas Mercedez e BMWs por ônibus e vans (aqui chamadas de taxi) para chegar ao estádio. Ver aquela multidão branca apinhada em ônibus, com um sorriso de uma orelha a outra, experimentando sem preconceito uma realidade nova, foi emocionante.

Nesses meses que estou aqui, me acostumei com o fato de que brancos e negros vivem em universos bem distintos. Não apenas têm a cor da pele diferente, mas falam línguas diferentes, escutam músicas diferentes, comem comidas diferentes, e por ai vai.


(Garoto branco pega "taxi" sul-africano para ir ao jogo)


Pois ontem esses dois mundos se encontraram numa linda final de rúgbi. O esporte dos brancos escolheu a capital dos negros para realizar sua festa. Como bem observou o amigo Thiago Dias, desde o massacre de 1976, em que a polícia do Apartheid atirou deliberadamente em estudantes negros, Soweto não recebia tantos brancos de uma só vez.

Dentro do estádio, a hora do hino sul-africano foi a mais emocionante. Quarenta milhões de brancos cantando com grande desenvoltura e orgulho as estrofes em zulu, xhosa e sotho do hino nacional. Para quem conhece bem tudo que este país sofreu para que negros e brancos pudessem c0nviver em harmonia, aqueles minutos foram um presente do país para esta jornalista apaixonada pela diversidade sul-africana. A resposta do povo para tudo que Mandela fez no passado.

Assim como na final do mundial de Rúgbi de 1995 retratada no filme “Invictus”, o esporte uniu brancos e negros num jogo histórico. Esperemos ver mais cenas como esta durante a Copa do Mundo daqui a 12 dias.
(Marta)

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