sábado, 13 de fevereiro de 2010

Depois de Mandela, líderes polêmicos e escândalos


Na semana em que a África do Sul comemorou os 20 anos da libertação de Nelson Mandela da prisão, o país nunca esteve tão carente de um líder que o faça orgulhoso novamente. Mandela livrou uma nação inteira de um dos sistemas mais cruéis do mundo – o Apartheid –, implantou reconciliação onde só havia ódio e trouxe novamente visibilidade internacional à África do Sul. No entanto, seus dois sucessores, Thabo Mbeki e Jacob Zuma, não apenas não compartilham do mesmo carisma e brilhantismo do ex-presidente, como têm suas imagens associadas a escândalos.

Mbeki governou a África do Sul entre 1999 e 2008 e foi um presidente burocrático, distante do povo, que em nada lembrava Mandela. Durante seu governo, foi acusado de aumentar a desigualdade do país, principalmente entre os próprios negros. Com Mbeki, uma pequena classe média negra ficou ainda mais rica, enquanto a população pobre não tinha acesso a serviços básicos, como água encanada e eletricidade.

Mas o pior erro de seus mandatos foi mesmo na área da saúde. Em 1999, Mbeki chocou o mundo ao negar que o vírus HIV causava a Aids, quando há anos a discussão já havia sido encerrada pela comunidade científica. O ex-presidente também questionou a eficácia das drogas anti-retrovirais no tratamento dos doentes devido aos efeitos colaterais dos remédios.

Assim, o número de infectados durante os nove anos em que foi presidente deu um salto – estima-se que 330 mil pessoas tenham morrido, durante seu governo, em decorrência da demora em tomar ações efetivas no tratamento da doença.

Em 2009, a África do Sul elegeu Jacob Zuma. Por ser popular e carismático, o atual presidente foi visto por muitos eleitores como o resgate da figura de Mandela. De fato, Zuma procurou uma aproximação maior com o povo do que Mbeki, mas os escândalos envolvendo seu nome ameaçam sua popularidade e credibilidade.

Antes mesmo de ser eleito, Zuma já era uma figura controversa – foi acusado de estupro e corrupção. O último escândalo estourou há duas semanas, após um jornal local ter publicado que o presidente teve um filho fora do casamento. Com a nova criança, ele tem agora 20 filhos reconhecidos e três esposas oficiais – Zuma é adepto da poligamia. A notícia foi encarada como um golpe duro às políticas de combate à Aids – África do Sul tem 5,7 milhões de infectados, a maior epidemia da doença em todo mundo.





Depois de atingir o auge da popularidade com a eleição de Nelson Mandela em 1994, o partido Congresso Nacional Africano (CNA), no poder desde então, parece estar vivendo seu momento mais difícil com Zuma.

De acordo com a analista política Susan Booysens, da Universidade de Witwatersrand, além dos escândalos sexuais do presidente, o partido precisa dar conta da insatisfação nacional com a queda nos índices sociais. Uma pesquisa divulgada este mês indica que o desemprego no país atingiu os 25%.

- O governo de Zuma tem sido marcado por protestos por melhores condições de vida nas periferias. Falta água, esgoto tratado, eletricidade, quase tudo. Sem falar nos altos índices de desemprego e na educação deficiente. Zuma precisa se explicar para a nação – ressaltou Booysens.

Para tentar melhorar sua imagem, Zuma lançou mão de um trunfo forte. Na abertura do Parlamento nesta quinta-feira, o presidente recebeu a visita ilustre de Nelson Mandela, que mesmo com saúde frágil e numa cadeira de rodas, aceitou o convite para participar da solenidade. Mas, assim como pode ter ajudado o atual presidente, a presença de Mandela pode ter aumentado as comparações entre os dois.

Por tudo isso, este dia 11 de fevereiro de 2010 foi marcado mais por nostalgia do que pelas celebrações que a data merece.
(Marta)

Um comentário:

  1. Marta,
    a cada texto seu e do Rafael, me interesso mais e mais pela história desse país.
    Pena que Mandela esteja com a saúde frágil e não possa participar com mais frequência dos eventos e das soluções dos problemas, que são muitos.
    Parabéns pela matéria!

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