terça-feira, 15 de setembro de 2009

Essa camisa amarela


Tinha sete anos quando assisti à minha primeira Copa do Mundo, em 90. Não é de se estranhar, portanto, que minha relação com a seleção brasileira tenha nascido estremecida. E como pra mim, garoto ingênuo, uma Copa tratava-se apenas de um torneio de futebol, não havia razão para que eu torcesse por aquele time horrível de camisa amarela. Então decidi virar Alemanha depois que ela ganhou a Copa.

"Virei" mesmo, de acompanhar pela TV toda a Eurocopa de 92 e lamentar nossa derrota na final para a Dinamarca. Já na Copa América de 93 nem me incomodei com a eliminação do Brasil para a Argentina - acho até que gostava mais da Argentina, por causa do Batistuta.

Em 94, o Brasil ganhou depois de 24 anos, ok, mas para um menino de 11 anos a vitória não teve significado especial. O que eu sabia é que havia visto duas Copas na vida e que, em nenhuma delas, o Brasil tinha dado show. A Alemanha também não foi bem, perdeu para a Bulgária. Eu até poderia ter virado Romênia, que bateu um bolão, mas depois daquela Copa desisti deste negócio de torcer por seleção.

Acho que só lá pela Copa de 2002 é que passei a torcer pelo Brasil e, assim mesmo, apenas em jogos importantes (ou seja, em Copa do Mundo ou contra grandes seleções). Seleção pra mim era como uma daquelas tias que a gente tem que gostar porque é da família e que a gente até acha legal de encontrar, desde que em ocasiões especiais.

E não foi nenhum gol ou título que me fez mudar de sentimento. Foi a admiração que a seleção brasileira desperta no exterior. Aqui na África, por exemplo, sempre que menciono que sou brasileiro meu interlocutor abre um sorriso, desanda a listar nossos grandes jogadores, transferir as qualidades do nosso time para o nosso país, falar bem, muito bem, do meu Brasil. Quase me sinto parte da seleção, como se eu, e não o Lúcio, tivesse dado aquela cabeçada fantástica na virada contra os Estados Unidos.

A seleção me lembra a farofa da minha mãe, o abraço do meu pai, a música brasileira, o Maracanã lotado, o Arpoador. E como não dá pra falar disso tudo com os gringos, visto aquela camisa amarela, cinco estrelas no peito, e saio por aí com a naturalidade de quem sabe que veio do melhor lugar do mundo.

(Rafael)

6 comentários:

  1. também lembro da Copa de 90. Da final em que eu achava que a Argentina que fosse ganhar. Acabou que eu dormi e acordei ao final do jogo... rs
    adorei o texto!!! apesar de ter sido excluída das suas lembranças brasileiras... mas tudo bem...
    Beijo

    ResponderExcluir
  2. Abandonou a Alemanha? Como é volúvel... vai acabar alvinegro... lembro que vc e o Thiago torciam pelos tedescos e eu pela Argentina (ainda, apesar da falta dos ídolos) - aliás, encontrei o Thiago no LinkedIn (um desses orkuts da vida).
    Enfim, com certeza essa nova escolha vai te dar mais alegrias, viracasaca!
    Abraço!

    ResponderExcluir
  3. Esta é a melhor declaração de amor ao Brasil que já li.
    Parabéns, e volte logo: agora teremos mais um brasileiro torcedor de coração da nossa seleção!
    E viva a África do Sul, que operou este milagre!
    Bjs
    Rosangela T P Lima
    PS.: que bom que você lembrou e tem saudades da minha farofinha (brasileira!)

    ResponderExcluir
  4. Que belo texto, cara! Redundância ao se tratar deste blog, né, mas vale o registro: que BELO texto!

    Também nunca fui muito chegado a esse negócio de torcer pela seleção - até porque, convenhamos, o São Paulo sempre me preencheu completamente com tantos e tantos títulos, hehehehe... - e só me importo com ela de quatro em quatro anos, durante um mês.

    Mas tive esse mesmo sentimento que você descreveu quando fui ao Canadá, em 2004. Na final da Copa América, contra a Argentina (aquele jogo em que o Imperador brilhou), torci feito louco em um restaurante cheio de argentinos, brasileiros, mexicanos, japoneses e canadenses. Quando a gente está longe, a seleção pentacampeã serve como referência e ajuda e aliviar um pouco a saudade.

    O legal é que você vai ver de perto um título mundial conquistado pelo Brasil. Aposto nisso.

    Volta logo! Mas, antes, aproveita bem aí - este ano e o ano do hexa! Abraço!

    (Fábio Matos)

    ResponderExcluir
  5. PS 1: Adorei a história do Seu Carvalho, grande rubro-negro, no último post! Hehehehe;

    PS 2: O Levi me disse que vocês se encontraram aí, né? Conte mais, mande e-mail contando!

    Gente boa, ele, né? E também está brilhando muito aí, como você e a Martinha. Ouvi ele na rádio ontem, muito legal!

    (Fábio Matos)

    ResponderExcluir
  6. PS 3: Ah, continuem caprichando nos posts por aí, pois tomei a liberdade de divulgar os links no meu twitter. Esse blog é bom demais, casal! :)

    ResponderExcluir