domingo, 30 de agosto de 2009

Na estrada de Ruanda

Numa tarde, durante nossa viagem a Ruanda, o motor da van que alugamos começou a ferver e precisamos parar no acostamento. Estávamos a menos de duas horas da capital Kigali, num ponto da estrada aparentemente despovoado. Pois cinco minutos depois fomos surpreendidos por um grupo de meninos e meninas que se aproximaram do nosso carro.


De pés descalços e segurando cadernos da escola, seus olhos brilhavam de curiosidade e excitação por terem se deparado com um grupo de estrangeiros brancos sentados no meio fio. Os meninos não falavam nada, mas pareciam maravilhados com a nossa presença. Seus olhinhos acompanhavam cada um de nossos movimentos, como se nós fossemos os artistas e eles a platéia. O repórter Regis Rosing começou a brincar com os garotos, que repetiam tudo o que ele falava e davam risada. Alguns deles sumiam no meio do mato e voltavam com galões de água para ajudar a esfriar o motor.

Uma hora depois conseguimos seguir viagem, mas logo o carro voltou a ferver e fizemos nova parada. Já era noite e a única luz vinha das estrelas. O lugar parecia ainda mais deserto. No entanto, logo percebi que não estávamos sozinhos. A um metro do carro, um adolescente que caminhava na beira da estrada parou seu trajeto para nos observar. Dois minutos depois, uma mulher com duas crianças encostaram ao lado do rapaz. Ficaram lá totalmente imóveis por mais de meia hora, apenas nos observando. Pouco depois, um grupo também parou do outro lado da estrada.

Se fosse na África do Sul, já estaria morrendo de medo. Mas não em Ruanda. Apesar de todo seu passado trágico - mais de um milhão de pessoas morreram no genocídio de 1994 - o país é hoje um dos mais seguros da África. Os ruandeses são um povo muito acolhedor e pacífico.

Mal dava para ver a expressão daquelas pessoas, mas elas pareciam felizes pelo simples fato de estarem ali nos observando. Era mais atraente ficar li no escuro, na beira da estrada, do que voltar para casa. Perguntei ao nosso motorista o porquê daquilo e ele emendou:

- Ruanda é um país essencialmente rural, não há diversão ou o que se fazer por aqui. Então, vocês se tornaram a atração dessas pessoas. Vocês são diferentes de tudo o que elas conhecem - explicou.

Quem diria que um grupo de jornalistas branquelos e um carro quebrado poderiam trazer alegria a tanta gente. Só mesmo em Ruanda.
(Marta)

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