terça-feira, 18 de agosto de 2009

O Malandro e o Embaixador

Certa vez, num distante país da África, eu conheci o Embaixador do Brasil por lá. Falava português, inglês e provavelmente francês. De mais não precisava.
Ele estava lá de passagem, sonhava com o retorno para a Europa.
A casa confortável era paga pelo Governo e o salário era suficiente para manter um altíssimo padrão de vida e ainda guardar algum.

Lá, conheci também seu ajudante. O Malandro desenrolava bem em quatro idiomas - português e crioulo, ambos do país de origem, além de francês e inglês que ele aprendeu na marra, por sobrevivência.
Ele também estava por lá de passagem. Queria juntar cinco mil dólares, voltar pra casa e abrir um negócio. Recebia 317 dólares na Embaixada e vendia produtos num país vizinho para completar a renda. Vivia num barraco, gastava quase nada mas ainda assim não dava pra economizar muito.

O Embaixador vivia sozinho. O filho não estava lá por causa da faculdade e a mulher não quis largar o Rio de Janeiro para viver na África.
O Malandro também estava só. O pai ele não conheceu, os irmãos tinham morrido e ele havia prometido à mãe que a deixaria por um instante para buscar uma vida melhor para os dois. Doze anos depois, ainda não tinha voltado, mas ligava todo dia pra casa para saber notícias.

O Embaixador dizia que o Malandro era preguiçoso e que tinha vontade de demiti-lo.
O Malandro reclamava da arrogância do Embaixador, mas seguia em frente. Ele só pensava no dia em que teria cinco mil dólares para voltar pra casa.

- Um dia eu volto, tenho certeza. Acho que cada um tem que viver na sua terra. É só não mexer com gente ruim que dá pra viver bem. Lá é a comida da minha terra, são as mulheres da minha terra... isso faz diferença.

(Rafael)

Nenhum comentário:

Postar um comentário