sábado, 3 de outubro de 2009

2016: agora vai?!


A vitória do Rio para sediar as Olimpíadas de 2016 causou grande comoção nacional e acabei me rendendo à festa. Até os 45 minutos do segundo tempo, eu era totalmente contra a realização do evento na cidade. A experiência no Pan-Americano de 2007 foi bastante frustrante, com superfaturamento e uma corrupção deslavada do nosso querido COB. Mais do que isso, vimos o Rio perder uma ótima oportunidade para sair da decadência, de investir de verdade em infraestrutura, enfim, de tornar a vida do carioca mais civilizada. As instalações esportivas viraram "elefantes brancos" e pouco foi feito para incentivar o surgimento de novos talentos no esporte. Foram gastos bilhões dos cofres municipais para conseguir terminar as obras a tempo e com isso a conservação da cidade foi completamente esquecida. Andar pelo Rio hoje é desviar de buracos e lixo por toda parte. Há um cheiro de mijo permanente nas ruas do Centro e da Lapa. Conseqüências do abandono do último mandato de César Maia.
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O primeiro legado do Pan são as Olimpíadas de 2016. As instalações esportivas construídas para 2007 e o "sucesso" do evento aumentaram a confiança do Comitê Internacional de que o Rio daria conta do recado. Mas e o resto? A maior parte dos projetos não saiu do papel, entre eles a construção da Linha 4 do metrô -ligando zona sul-Barra- e a despoluição da Baía de Guanabara. O cidadão comum pouco se beneficiou do Pan.

Meu medo é que aconteça a mesma coisa em 2016, por isso era contra esta candidatura. O que me fez mudar de ideia? Minha ida ao Rio em setembro. Depois de seis meses morando em Johanesburgo (com todos os problemas que infraestrutura que há aqui), fiquei muito espantada com a situação do Rio. A ex-capital brasileira está na UTI e precisa urgente de um transplante generalizado. Transplante de ônibus, de trem, de viadutos, de túneis, de asfalto, de segurança, de educação (do povo principalmente), de vergonha na cara. Com tudo que vejo acontecer na cidade que já adotei como minha há alguns anos, comecei a questionar o que precisa ser feito para que o choque de ordem criado de Paes realmente surta efeito lá.
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Em poucos dias na cidade, fiquei sabendo que depois de criticar veemente a Cidade da Música de César Maia, nosso prefeito Eduardo Paes tem planos de iniciar um projeto parecido na zona portuária – quer construir um mega aquário -, que certamente terá o orçamento inicial de alguns poucos milhões e terminará quase na casa dos bilhões. Sobre o assunto minha mãe falou muito sabiamente: “Deveria haver uma lei mais rigorosa para impedir as ideias megalomaníacas de nossos prefeitos”. E meu pai completou: “Um prefeito deveria entender que seu papel deve se limitar a tornar a vida do cidadão mais fácil, precisamos de acesso a serviços básicos, e não de projetos como esses”.
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Comecei a questionar novamente o futuro da cidade. Será que Paes se limitaria a tornar nossa vida mais fácil? Duvido muito. Foi quando passei a depositar minhas últimas esperanças nestas Olimpíadas, além da Copa de 2014, claro. É preciso que aconteça alguma coisa muito grande e importante (muito mais do que um Pan-Americano) para sacudir de vez a cidade. Além disso, preciso confiar de que vai dar certo a ser uma daquelas pessoas pessimistas que alegam que o país não tem jeito e enchem o peito para falar, ao final: "Não avisei?". As Olimpíadas terão uma fiscalização muito mais rigorosa e pressão internacional para que as promessas de campanha sejam cumpridas. Pelo menos, a maior parte delas. Não tem jeito, o Rio terá que mudar e se reinventar. Mas é preciso planejamento e fiscalização, principalmente por parte de nós brasileiros.

Eu passei a depositar todas as minhas fichas neste evento. Tanto que tive uma reação totalmente inesperada quando o presidente do COI anunciou a cidade campeã. Chorei compulsivamente como uma criança e passei a noite pensando no que precisa ser feito na cidade. Esta vitória me tirou o sono e resgatou um otimismo raro em se tratando do Rio de Janeiro. Se não for agora, então acho que perderemos nossa última chance.
(Marta(

4 comentários:

  1. Antes tarde do que nunca: precisamos ser otimistas e acreditar que este evento deixará um ótimo legado para nossos filhos e netos.
    Tomara que agora aconteça: a oportunidade já conquistamos!

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  2. Em 2016, se tudo der certo, já estarei morando no Rio. Até por isso, torci CONTRA a candidatura a receber a Olimpíada - porque muito sinceramente não consigo acreditar que essa mesma gente que não deixou legado algum com o Pan, como você bem disse, vai fazer diferente agora. Não vai. Eu, pelo menos, não acredito.

    Não dá para confiar em um projeto encabeçado por Carlos Arthur Nuzman, Orlando Silva Júnior, Eduardo Paes e Sérgio Cabral Filho. Não dá. Simplesmente não dá, não consigo.

    Espero estar redondamente enganado, espero mesmo que o Rio - minha futura cidade, certamente minha cidade em 2016 - desta vez receba um legado digno do nome. Mas nada, rigorosamente nada, indica que isso vai acontecer mesmo...

    Além do mais, me dá um incômodo danado de ver um orçamento de mais de 25 BILHÕES DE REAIS - e a gente sabe que isso vai saltar no mínimo umas quatro vezes - destinado a um evento esportivo. Gosto muito de esporte, já estive cobrindo uma Olimpíada e achei sensacional, mas não meço a qualidade de vida de um país pelo fato de receber uma, duas, três, mil Copas e Olimpíadas.

    Enfim, tô bem pessimista. Espero que em 2016 a gente dê risada de tudo isso, tomando chope lá no Rio, a NOSSA cidade. Mas duvido. Acho que o que vem por aí é um período negro de 7 anos de muita, mas muita corrupção com Copa e Olimpíada.

    Beijo!

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  3. Em tempo: mó inveja de vocês que estão na África do Sul neste momento. A coisa anda um tanto chata por essas bandas daqui esses dias. Quem é contra o Rio-2016, é acusado de "anti-patriota", "anti-Lula", "anti-Brasil", "anti-Rio" (vejam só, EU fui chamado de anti-Rio! Hahahahahahaha!), etc. e tal... Enfim, um saco!

    Quando aparecem essas ondas de nacioalismo bocó, essa coisa estúpida de "Brasil, Ame-o ou Deixe-o", eu juro que fico morrendo de vontade de... pegar o avião e deixar o país mesmo! Hahahaha!

    Enfim, um saco. Mas valeu o desabafo! ;)

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  4. Pois é, Fábio. Pensando friamente é foda acreditar que vamos conseguir trazer mudanças significativas pro Rio, mas a gente precisa ficar otimista, precisa cobrar. O Pan é fichinha perto de uma Olimpíada, e se nós jornalistas não conseguirmos botar pressão nesses caras, ninguém mais vai fazer. Eu estou muito motivada a ler tudo que vai sair sobre o evento, marcação homem a homem rsss. Precisamos de profissionais competentes como você para ajudar.
    Marta

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