(Marta)
domingo, 13 de dezembro de 2009
Khayelitsha, uma township com vista pro mar
(Marta)
domingo, 6 de dezembro de 2009
O meu Flamengo
Dois mil e nove não é mais o ano em que eu saí de casa, que eu me mudei para a África, que eu vivi algumas das melhores experiências da minha vida. Desde este 6 de dezembro, 2009 é pra mim, em primeiro lugar, o ano em que o meu Flamengo foi hexacampeão brasileiro.
O último título havia sido em 1992, quando eu, então com nove anos, formei minha convicção, para sempre inabalável, de que o meu time era também, para a minha sorte, o maior clube do Brasil.
Só que os resultados dos últimos 17 anos não ajudaram. O Flamengo, que pela minha lógica não poderia nunca perder jogo algum para time nenhum, perdia campeonato atrás de campeonato. E eu ficava com aquela sensação de que não veria mais o Flamengo do tamanho que ele é.
Mas neste 6 de dezembro eu vi o meu Flamengo de novo, o número um do Brasil. Hoje o Flamengo foi hexacampeão brasileiro, mas foi, sobretudo, o meu Flamengo, gigante, aquele que eu aprendi a amar.
(Rafael)
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Sotaque português na África do Sul
Vira e mexe, eu e Rafael estamos numa loja fazendo compras e alguém pergunta se somos portugueses ao nos ouvir conversando. Respondemos que somos brasileiros e a pessoa se apresenta como descendente de portugueses. Além das nove etnias negras locais, dos sul-africanos de origem inglesa e dos africâneres (descendentes de holandeses), a África do Sul tem grandes comunidades portuguesas e gregas.
As naus de Diogo Cão e de Bartolomeu Dias foram as primeiras a aportar na costa sul-africana lá no século 15, mas não é por isso que eles estão aqui, são fatos bem mais recentes. Durante a colonização de Angola e Moçambique, Portugal mandou centenas de pessoas para povoar e desenvolver os países. Quando a guerra civil explodiu em ambos, ao invés de todos voltaram pra Portugal, uma parte se mudou para África do Sul.
Em Johanesburgo, eles se estabeleceram principalmente num bairro chamado Rosettenville. Dizem (eu nunca fui) que nas mercearias de lá você encontra feijão preto, farinha de mandioca e até goiabada. No resto da cidade, eles monopolizam as quitandas de frutas e verduras, e algumas cadeias de comida fast-food, como a Nando's. Aqui perto de casa tem uma dessas quitandas e, se não fosse pela portuguesa que trabalha lá, eu não teria encontrado folha de louro para colocar no meu feijão.
Ela é sul-africana de pais portugueses, como a maioria que mora hoje no país. A primeira língua é geralmente o inglês, mas o português é falado em casa e passado de geração em geração. No lugar onde jogo futebol, escuto várias meninas gritando "passa", "aqui", "chuta". É a tática que elas usam para que as demais jogadoras não entendam. Mas quando falam inglês, são sul-africanas como qualquer outra, sem qualquer sotaque. Só dá para identificá-las pelas camisas da seleção de Portugal e do Cristiano Ronaldo.
Em tempo: na Cidade do Cabo, alguns portugueses resolveram criar um time de futebol inspirado num clube brasileiro. O Vasco da Gama sul-africano tem mesmo nome, cores e uniforme bem parecido com o do time carioca. Até o futebol é semelhante: ele disputa a segunda divisão do campeonato nacional.
domingo, 22 de novembro de 2009
As cores da primavera "joburguiana"
sábado, 14 de novembro de 2009
O mistério da falta de bermudas
Copa de 2010: a vez da África
Este blog fala sobre história, cultura e geopolítica africanas, mas também se propõe a ser um fórum de discussão sobre assuntos que interessam e interferem na vida de todo o planeta. Por isso, pedimos licença para tratar daquilo que é realmente relevante nesta vida: o futebol.
Neste sábado, mais dois africanos se garantiram na Copa do Mundo de 2010 - Camarões e Nigéria. Durante a semana, sairá mais um classificado entre Egito e Argélia. Meu palpite é que o Egito vai atropelar, o que não deixa de ser um forte indício de que a Argélia pode levar a vaga. Mas se eu contrariar meu retrospecto recente e acertar desta vez, teremos então as cinco grandes seleções africanas no Mundial. Na ordem de força, segundo minha avaliação, Costa do Marfim, Gana, Camarões, Egito e Nigéria. Todas têm bons jogadores, experiência e futebol suficiente para chegarem, no mínimo, às oitavas de final da competição.
Tradicionalmente, o futebol africano é sempre muito festejado antes das Copas, mas em campo jamais conseguiu passar das quartas de final. Desta vez, porém, manda aqueles que são, de fato, seus cinco melhores representantes, ao contrário de 2006, quando Angola, Togo e Tunísia foram passear na Alemanha. Além disso, todos jogarão com torcida a favor e provavelmente com aquela arbitragem amiga.
Por isso, com os "Big Five" na Copa, eu aposto numa gloriosa semifinal com uma seleção africana. Elas têm bola pra isso.
Infelizmente considero apenas cinco possibilidades porque a sexta representante, a África do Sul, minha preferida, parece longe de resolver sua eterna crise de relacionamento com o gol.
(Rafael)
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Uma vida no lixo
Marian vive há mais de 30 anos na Cidade do Lixo, um bairro imundo na periferia do Cairo. Mãe de quatro filhos, ela divide seu tempo entre cuidar das crianças e administrar uma barraca de frutas.
A Cidade do Lixo fica na maior metrópole da África, mas Marian poucas vezes largou sua rotina para passear pelas movimentadas ruas do Cairo. Ela não conhece as pirâmides de Gizé, nunca passeou pelo rio Nilo de barco, ou fez compras no famoso mercado Khan El Khalili.
Além de entender de frutas, Mariam conhece bem o lixo. Sabe direitinho o que é aproveitado para reciclagem, o que será dado aos animais, o que ela pode levar para as crianças brincarem. Até montar a vendinha de frutas, trabalhava na seleção do lixo que seu marido trazia em caminhões lotados várias vezes ao dia. A Cidade do Lixo concentra 60% do lixo do Cairo.
Todas as amigas de Mariam conhecem o lixo tão bem quanto ela. Os filhos de suas amigas também. Na verdade, é tudo o que conhecem. A maioria dos 30 mil habitantes da Cidade do Lixo é analfabeta e passa a vida separando os restos e dejetos que são trazidos do Cairo por seus maridos e irmãos.
A Cidade do Lixo não tem água encanada ou esgoto, está tomada por lixo e ratos, mas Marian nem cogita se mudar. Esta é a única realidade que ela conhece e a qual está acostumada.
(Marta)
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
E lá se foi um grande personagem...
domingo, 11 de outubro de 2009
O caos da cidade sem sinal
Usar a buzina virou um tique - elas servem para tudo: reclamar de um motorista mal-educado, chamar atenção de um pedestre, cumprimentar um amigo, chamar passageiros para taxis e ônibus, agradecer, etc. Na verdade, ela serve para tanta coisa que acaba servindo apenas para enfernizar ainda mais o trânsito.
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Outra curiosidade sobre o trânsito egípcio é que aqui não tem hora do rush, ele é caótico das 8h da manhã à 1h da madrugada. Esta quinta (no Egito, o fim de semana começa na sexta, e o domingo deles é a nossa segunda-feira) pegamos engarrafamento à meia-noite, saindo de uma pizzaria. A cidade estava a todo vapor. As ruas lotadas de gente e muitas lojas abertas. É a primeira vez que eu vejo uma quitanda de frutas funcionando meia-noite e meia. Lavanderias, lojas de roupa, restaurantes...tudo aberto.
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segunda-feira, 5 de outubro de 2009
A cidade que acorda às seis da tarde
Para quem mora na minha querida Johanesburgo, três coisas no Egito encantam imediatamente:
A segunda é o transporte. Há trens e ônibus entre as cidades e uma frota aparentemente interminável de táxis. Os veículos não são modernos, mas andar neles é barato. Cada corrida de táxi me custa, em média, 1 dólar (o valor é negociado na hora, porque não há taxímetro). Mas muitas vezes nem preciso recorrer a eles, porque vou a pé de um canto a outro, mesmo debaixo de sol, mesmo um pouco distante, só para lembrar da sensação de andar na rua. Parece coisa boba, mas para quem vem de Johanesburgo não é.
E a terceira é a vida noturna. Em qualquer dia da semana, de trabalho ou de descanso, as ruas ficam cheias depois das 10 da noite em Port Said. Lojas abertas, trânsito, meninos jogando bola na praça, restaurantes movimentados, tudo funcionando. As coisas aqui começam mais tarde (pela primeira vez vi um hotel servindo café-da-manhã até o meio-dia) e fica difícil até almoçar às 13h, porque a maioria dos restaurantes ainda não abriu.
Só não sei dizer a que horas Port Said dorme, porque eu sempre vou dormir antes dela.
domingo, 4 de outubro de 2009
Classificados
Se você pretende ficar rico, experimente abrir uma empresa de limpeza pública por aqui. Garanto que a concorrência, se existe, é bem pequena.
Já se você busca estabilidade profissional, então o melhor cargo é o de presidente do Egito. O último vestiu a faixa em 1981 e está com ela até hoje.
sábado, 3 de outubro de 2009
2016: agora vai?!
O primeiro legado do Pan são as Olimpíadas de 2016. As instalações esportivas construídas para 2007 e o "sucesso" do evento aumentaram a confiança do Comitê Internacional de que o Rio daria conta do recado. Mas e o resto? A maior parte dos projetos não saiu do papel, entre eles a construção da Linha 4 do metrô -ligando zona sul-Barra- e a despoluição da Baía de Guanabara. O cidadão comum pouco se beneficiou do Pan.
Meu medo é que aconteça a mesma coisa em 2016, por isso era contra esta candidatura. O que me fez mudar de ideia? Minha ida ao Rio em setembro. Depois de seis meses morando em Johanesburgo (com todos os problemas que infraestrutura que há aqui), fiquei muito espantada com a situação do Rio. A ex-capital brasileira está na UTI e precisa urgente de um transplante generalizado. Transplante de ônibus, de trem, de viadutos, de túneis, de asfalto, de segurança, de educação (do povo principalmente), de vergonha na cara. Com tudo que vejo acontecer na cidade que já adotei como minha há alguns anos, comecei a questionar o que precisa ser feito para que o choque de ordem criado de Paes realmente surta efeito lá.
Eu passei a depositar todas as minhas fichas neste evento. Tanto que tive uma reação totalmente inesperada quando o presidente do COI anunciou a cidade campeã. Chorei compulsivamente como uma criança e passei a noite pensando no que precisa ser feito na cidade. Esta vitória me tirou o sono e resgatou um otimismo raro em se tratando do Rio de Janeiro. Se não for agora, então acho que perderemos nossa última chance.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Amigos: não saia do Egito sem fazer os seus
O primeiro egípcio que conheci nesta viagem foi Tamal. Um engenheiro de uns 35 anos que mora em Luanda, capital de Angola, e visita a família a cada dois meses. Ele sentou ao meu lado no vôo entre Johanesburgo e o Cairo e após oito horas de viagem saí do aeroporto com o telefone dele anotado.
- Pode me ligar se precisar de qualquer coisa - me disse ele.
No primeiro dia em Port Said, conheci Ahmed, um técnico de informática de 23 anos que trabalha na organização do Mundial Sub-20. Me apresentei e quis saber onde eu poderia comprar cartões pré-pagos de celular. Ele imediatamente levantou-se, me levou até uma banca e antes que eu abrisse a carteira me entregou os cartões.
- Deixa que eu pago, não tem problema, é um prazer - ele disse.
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Em outro dia, perguntei a um voluntário se ele tinha um cabo de computador para me emprestar. Ele disse que não, mas lamentou tanto que parecia que o Egito tinha acabado de perder uma final de Copa do Mundo. Ok, não tem problema, eu respondi, mas dez minutos depois o tal cabo apareceu na mesa em que eu estava. O voluntário tinha ido comprá-lo na rua pra mim.
E tem também o Gamal, o Motaz e o Yasser, todos egípcios que insistiram em entrar na minha agenda de celular.
- Se você precisar de qualquer coisa aqui no Egito pode me ligar - repetiram eles.
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quarta-feira, 30 de setembro de 2009
O conto de fadas africâner
Semana passada estivemos em Orania, uma pequena cidade no interior da África do Sul e um dos lugares mais impressionantes que já visitei. Orania tem aproximadamente 700 habitantes, todos brancos africâneres, grupo formado por descendentes dos colonizadores holandeses, o mesmo que criou o Apartheid em 1948. Os africâneres representam hoje 6% da população do país.
A vida em Orania é um conto de fadas. Crianças lourinhas brincam sossegadas pelas ruas tranquilas e limpas da cidade, sob o olhar orgulhoso de suas mães. Lá não há violência, as casas têm muros baixos e jardins bem cuidados; jovens se divertem nas águas limpas do rio Orange; quase tudo que é consumido na cidade é produzido pela própria população nas fazendas e comércios locais. A cidade desenvolveu um método próprio de ensino, em que os alunos estudam a lição sozinhos em casa e depois são testados por um programa de computador. Parece que o programa já foi exportado para várias cidades e até mesmo para outros países. Mas há também uma segunda escola para quem prefere o sistema tradicional.
Orania tem até moeda própria, o Ora, que vale a mesma coisa que o Rand sul-africano. O símbolo da cidade, presente nas placas e na sua bandeira (isso mesmo, Orania tem até bandeira) é um garoto arregaçando as mangas, como sinal de trabalho. Quem mora em Orania diz que não trocaria lá por lugar nenhum. Pudera...
Só que por trás desse rótulo romântico, há uma cidade preconceituosa e triste. Ela é o maior exemplo de como a África do Sul ainda é um país segregacionista. Orania foi fundada três anos antes de Nelson Mandela chegar ao poder, em 1994, e assim decretar oficialmente o fim do Apartheid. Um negro no governo poderia significar o fim da cultura e soberania africâner, e por isso algumas pessoas resolveram criar em Orania o modelo da África do Sul ideal, em que culturas diferentes não devem se misturar.
Os moradores de Orania alegam que o que move a cidade é uma questão cultural e não racial. Tanto que brancos de origem inglesa também não são bem-vindos. O lugar é aberto aos turistas, mas morar lá é uma outra história, é preciso provar ser um genuíno africâner. A diversidade de raças, idiomas e culturas é um dos aspectos mais fascinantes da África do Sul, mas não tem vez em Orania. Em pleno século 21, uma cidade escolheu o isolamento como a única forma de preservar a língua e os costumes de seu povo.
(Marta)
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Nossos bichinhos de estimação
Ou um pássaro que parece gente?
A capital do diamante
Um amistoso sem graça e de baixo nível técnico entre as seleções da África do Sul e de Madagascar nos levou à Kimberley, capital da província de Northern Cape (Cabo Setentrional, em português), conhecida como a capital dos diamantes. Kimberley fica bem no centro do país e no século 19 foi uma das cidades mais importantes da África do Sul. Na região onde fica a cidade foi encontrado o primeiro diamante sul-africano em 1860.
domingo, 20 de setembro de 2009
Buracão
O Big Hole tem nada menos do que 214 metros de profundidade e 1,6 quilômetros de extensão. A profundidade do lago é de 41 metros. Logo após o incidente, as escavações foram interrompidas, mas não se sabe quantas pessoas morreram ali devido à corrida do diamante.
Dizem que é impossível chegar à superfície do lago sem auxílio de balões de oxigênio, pois lá embaixo o ar é muito rarefeito. Uma plataforma de metal erguida numa antiga mineradora é o mais perto que os visitantes podem chegar da cratera. O Big Hole é hoje a principal atração turística de Kimberley, cidade a 600 quilômetros de Johanesburgo. E não deixa de ser também uma pequena lição sobre a África:
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Essa camisa amarela
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Um luso-sãotomense rubro-negro no Gabão
- E não tire este V do meu nome, hein porra - diz com seu sotaque português.
Seu Carvalho nasceu em São Tomé e Príncipe, um pequeno arquipélago africano. Poderia torcer pelo Andorinha Sport Club, mas preferiu um time mais popular.
Ele vive há 38 anos no Gabão. Poderia ter virado Mangasport, mas preferiu um time com mais história.
É descendente de portugueses. Poderia ser Vasco, mas preferiu um time de primeira divisão.
Como africano, poderia fazer como tantos outros no continente e torcer pelo Manchester United, mas preferiu um time mais vitorioso.
Seu Carvalho é Flamengo. Até hoje descreve com detalhes um gol de falta que Bebeto fez com a camisa rubro-negra num torneio aqui em Libreville, em 1987.
- Sou muito Flamengo mesmo, porra - diz com orgulho.
A razão disso eu não sei. Só sei que se fosse um país e ficasse na África, o Flamengo teria a nona maior população do continente, à frente de outros 45 países.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Zim
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
O dono do Zimbábue
Um virou algoz no Zimbábue.
O outro ganhou aura de santo na África do Sul.
domingo, 30 de agosto de 2009
Na estrada de Ruanda
De pés descalços e segurando cadernos da escola, seus olhos brilhavam de curiosidade e excitação por terem se deparado com um grupo de estrangeiros brancos sentados no meio fio. Os meninos não falavam nada, mas pareciam maravilhados com a nossa presença. Seus olhinhos acompanhavam cada um de nossos movimentos, como se nós fossemos os artistas e eles a platéia. O repórter Regis Rosing começou a brincar com os garotos, que repetiam tudo o que ele falava e davam risada. Alguns deles sumiam no meio do mato e voltavam com galões de água para ajudar a esfriar o motor.
Se fosse na África do Sul, já estaria morrendo de medo. Mas não em Ruanda. Apesar de todo seu passado trágico - mais de um milhão de pessoas morreram no genocídio de 1994 - o país é hoje um dos mais seguros da África. Os ruandeses são um povo muito acolhedor e pacífico.
Mal dava para ver a expressão daquelas pessoas, mas elas pareciam felizes pelo simples fato de estarem ali nos observando. Era mais atraente ficar li no escuro, na beira da estrada, do que voltar para casa. Perguntei ao nosso motorista o porquê daquilo e ele emendou:
- Ruanda é um país essencialmente rural, não há diversão ou o que se fazer por aqui. Então, vocês se tornaram a atração dessas pessoas. Vocês são diferentes de tudo o que elas conhecem - explicou.
Quem diria que um grupo de jornalistas branquelos e um carro quebrado poderiam trazer alegria a tanta gente. Só mesmo em Ruanda.
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Ainda sobre Semenya
O diário britânico Daily Telegraph revelou que o treinador da equipe nacional da África do Sul é Ekkart Arbeit, que nos anos 80 esteve envolvido num escândalo de doping. Arbeit foi acusado por uma das suas atletas, Heidi Krieger, de forçá-la a tomar esteróides anabolizantes, o que a obrigou a mudar de sexo em 1997.
No entanto, o Parlamento sul-africano disse que vai interpelar a ONU para que ela denuncie a Federação Internacional de Atletismo (IAAF) por violação dos direitos humanos no caso da atleta. Mesmo que seja comprovado que ela na verdade é ele, concordo com Rafael quando ele diz que a federação deveria ter feito os exames antes de Semenya disputar a prova, e assim evitar tanto constrangimento.
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
A arte de (não) andar pelas ruas de Joburgo
Mas a piada bem que poderia ser estendida à quase toda população da cidade. Porque para qualquer coisa que se faça por aqui é preciso ter um carro - inclusive para ir a uma concessionária comprar um carro.
Quem não tem um precisa apelar para um sistema de transporte praticamente inexistente. Só há vans em más condições e raríssimos ônibus (que, mesmo assim, circulam em áreas restritas da cidade).
Andar a pé não é uma opção. Primeiro, por causa da organização de Johanesburgo, toda cortada por longas (e ótimas) rodovias, como uma típica cidade americana, em que negócios e entretenimento estão distantes das áreas residenciais. Segundo, e provavelmente mais relevante, por conta da violência urbana. Johanesburgo é, sim, uma cidade perigosa, mas não é diferente do Rio ou de São Paulo. A diferença é que aqui parece que as pessoas decidiram simplesmente não andar mais nas ruas. Isso, obviamente, não serviu para diminuir a violência, só para ampliar o medo.
É raro encontrar faixa de pedestre. Caminhar, como nós já fizemos algumas vezes durante o dia, causa desconforto. Não por medo, mas pelo vazio das calçadas. Por falta de uso, aliás, elas muitas vezes acabam virando enormes jardins nas áreas residenciais.
Em Johanesburgo, quase não se vê casais se beijando na rua, o dono passeando com seu cachorro ou os amigos voltando juntos do colégio. Aqui, as esquinas são mais tristes.
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Malema
Para quem não conhece Malema, ele é uma das principais figuras do CNA, partido que levou Mandela ao poder em 94 e que reina absoluto no governo desde então. No entanto, bem diferente de Mandela, o cara é um verdadeiro idiota e é chegado à uma declaração polêmica. A última foi há três semanas, quando acusou o presidente Jacob Zuma de preterir os negros em cargos do gabinete econômico. Malema se irritou porque Zuma escolheu Gill Marcus, uma branca, para a função.
A recepção da Menina de Ouro
Uma recepção bem ao estilo africano para a Menina de 0uro da África do Sul - cheia de alegria e desorganização. Quase duas mil pessoas se espremeram no saguão do Aeroporto Internacional de Johanesburgo, na manhã desta terça-feira, para dar as boas-vindas à Caster Semenya, campeã mundial dos 800 metros no Mundial de Atletismo, em Berlim. Muitas pessoas carregavam cartazes que diziam: "Nossa primeira dama do esporte", "Menina de Ouro" e "Caster, você é linda".
Porém, o que começou como uma festa bonita e animada, típica dos sul-africanos, poderia ter acabado mal, devido à incompetência da polícia em isolar o local por onde sairiam os atletas.
Duas horas antes da delegação de atletismo desembarcar, amigos e familiares comandavam dancinhas e músicas no saguão do aeroporto. Os sul-africanos são um povo muito animado e não perdem uma oportunidade para mostrar que são os reis do rebolado. E claro, não poderiam faltar as vuvuzelas.
O avião atrasou muito e enquanto Semenya não aparecia, mais curiosos e jornalistas se amontoavam no lugar. Até que ficou insuportável. Não dava nem para se mexer direito. Eu e Rafael nos entreolhamos e apostamos: "93% de chances de dar merda”. (Na foto abaixo, amigos e familiares dançam e cantam em voltam de recortes de jornal que têm a foto de Semenya na capa).
Pois na hora em que Semenya saiu no saguão, uma onda de jornalistas, amigos e curiosos atravessou o isolamento precário feito pela polícia. Eu e Rafael fomos carregados pela multidão. Algumas mulheres acabaram caindo no chão com o empurra-empurra. Eu levei um chega-pra-lá de um policial. E o que era para ser uma recepção linda, acabou assim: quase ninguém conseguiu ver Semenya, que sumiu na barreira policial.
Ah, além de Semenya, outros dois sul-africanos conquistaram medalhas no Mundial de Berlim. Khotso Makgale foi prata no salto em distância e Mbulaeni Mulaudzi repetiu o feito de Semenya e foi campeão dos 800 metros masculino. Mas eles acabaram ofuscados pela polêmica e comoção em torno da atleta, que ainda aguarda os resultados dos exames feitos pela Federação Internacional de Atletismo (IAAF) para provar se ela é mulher.
(Marta)
sábado, 22 de agosto de 2009
Como se faz o hino de um país de 11 línguas?
Vocês já pararam pra pensar na complexidade de um país com 11 idiomas oficiais como a África do Sul? Aqui funciona assim: o sujeito está lá vendo uma partida de futebol, narração em Inglês, quando de repente outro narrador assume o microfone e começa a contar o jogo em Zulu ou Sesotho. Acontece também na novela – os personagens mudam de língua numa mesma cena e surge uma legenda em Inglês para não deixar ninguém boiando.
Por causa desta variedade de idiomas, quase todo mundo aqui sabe pelo menos dois deles. Esta, aliás, é uma característica comum a praticamente todo o continente. Centenas de milhões de africanos aprendem suas respectivas “línguas da colonização” (normalmente inglês, francês ou português), mas não abandonam seu idioma de origem – inclusive preferem usá-lo nas conversas entre eles.
Sim, língua é também identidade. E se a África do Sul pós-Apartheid queria construir um Estado plural, por que privilegiar apenas uma ou duas delas? Decidiu-se então que o país teria 11 idiomas oficiais. Mas como fazer o hino deste novo país?
Não dava para manter o antigo hino em Afrikaans, dos brancos de origem holandesa. Fazê-lo todo em Inglês também não adiantava, porque apesar de este ser o idioma mais falado do país é a língua-mãe de menos de 10% da população. Decidiu-se então por uma canção híbrida. A primeira estrofe, em Xhosa e Zulu, é um trecho de "Nkozi Sikelel’iAfrika", que batiza este blog. A segunda estrofe é em Sesotho. A terceira, em Afrikaans, é uma parte do hino anterior. E a quarta é em Inglês.
Durante a Copa das Confederações, a FIFA experimentou tocá-lo parcialmente, como é de praxe em suas competições. Acabou causando uma grande polêmica por aqui, porque ninguém queria ver seu “pedaço” de fora. No fim das contas, o hino da África do Sul é como o país – cheio de diversidade, de divisões, mas muito bonito. Para ouvi-lo é só clicar no vídeo acima.
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Neve na África?
Fale a verdade. A foto acima não combina muito com seu estereótipo de África: lugar quente, de temperaturas acima dos 30°C durante o ano todo. Pois aqui também neva. É raro, mas acontece. Os picos cobertos de gelo da foto ficam na região central de Drakensberg, a cinco horas de carro de Johanesburgo. Está a menos de duas horas de Lesoto, um pequeno país encravado no interior da África do Sul. Em Lesoto também costuma nevar durante o inverno.